Da Superfície à Profundidade: A Escolha da Geração Z
A geração Z está entrando no mercado de trabalho em um momento de abundância tecnológica e escassez de profundidade. Isso é uma oportunidade — mas também um alerta.
Muito se fala sobre as qualidades da geração Z: criativos, conectados, rápidos, nativos digitais. Mas, junto dessas qualidades, surgem sinais preocupantes: falta de paciência, aversão ao esforço contínuo e um imediatismo que ignora os processos fundamentais de aprendizado.
Em tecnologia, isso tem um preço.
Um passado de erros, tentativas e aprendizado real
Lembro do início da minha carreira em TI. Tudo era novo, e por isso mesmo, tudo era fascinante. Não havia IA para sugerir soluções, muito menos tutoriais prontos em vídeo. A gente aprendia fuçando, testando, quebrando a cara. E esse era o verdadeiro aprendizado.
Fazer engenharia reversa por diversão. Quebrar código e reconstruir. Tentar, errar, voltar. Era assim que se aprendia — e era isso que fazia a gente evoluir de verdade.
Hoje, as ferramentas são infinitamente melhores. Inteligência artificial, bibliotecas prontas, cursos gratuitos de altíssima qualidade. E, ainda assim, a sensação é de que boa parte dos jovens prefere pular etapas. Copia-se o que está pronto, adapta-se o que não se entende, e torce-se para funcionar. Quando funciona, ótimo. Quando não, desiste-se.
O problema não está na tecnologia — está na relação com ela
Não é a IA que está errada. Ela é uma revolução que veio para ficar — e para ajudar. O problema está no uso inconsciente, sem base, como se automatizar significasse não precisar mais entender.
Aqui mesmo, temos uma biblioteca com dezenas de livros fundamentais sobre infraestrutura, dados, inteligência artificial, engenharia de software. Quase ninguém abre. A justificativa é sempre a mesma: “está tudo na internet”. Sim, está. Mas o conhecimento profundo não vem só do que está disponível — vem de saber procurar, saber filtrar, saber conectar os pontos. E isso exige mais do que um clique.
O papel da liderança (sem salvadores)
Diante disso, a liderança não pode se calar — mas também não precisa posar de heroína.
Liderar, nesse cenário, é simplesmente cumprir a obrigação de quem já viveu mais: acender luzes no caminho dos mais jovens. Mostrar que o atalho só faz sentido quando se conhece a trilha. Que esforço, consistência e curiosidade ainda são as bases de qualquer grande profissional.
Não se trata de impor métodos antigos, mas de preservar o que há de essencial: entender o que se está fazendo, e não apenas repetir.
O futuro será seletivo
Com a velocidade das transformações, a tendência é clara: cargos operacionais desaparecerão. O mercado vai exigir especialistas. Gente que resolve problemas complexos. Gente que pensa. Gente preparada.
Quem não tiver base, não vai conseguir acompanhar.
Mais preocupante do que perder espaço é ver uma geração inteira acreditando em promessas fáceis, frustrando-se, desistindo antes de entender o próprio potencial. E o pior: achando que foi enganada, quando na verdade foi apenas mal orientada.
Conclusão: o tempo de plantar ainda existe
É fácil cair na armadilha do agora, do pronto, do que exige pouco. Mas o mundo real, principalmente o da tecnologia, não perdoa amadorismo por muito tempo. O mercado pode até acolher quem sabe repetir, mas só valoriza quem sabe construir.
A geração Z ainda tem tempo. Tempo de ajustar a rota, de buscar profundidade, de aceitar que a jornada do conhecimento exige paciência, humildade e constância. Não é um castigo — é o que forma profissionais realmente preparados para o que vem pela frente.
A escolha está sendo feita todos os dias: seguir por conveniência ou construir com consciência.
O futuro vai cobrar essa escolha. Que não falte talento. Que não falte coragem. Que só não falte preparo.